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REVISTA
CONSTRU
CHEMICAL
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ENTREVISTA
Para Ercio Thomaz, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo, o acirramento
da concorrência, principalmente, em obras de edificações, além do planejamento e gestão, serão cada vez mais valorizados
nas empresas que atuam nesse segmento. «A automatização e informatização de processos já é uma realidade e está contri-
buindo para uma melhor eficiência na construção civil», explica.
Além disso, segundo Thomaz, as exigências da sociedade moderna por edifícios cada vez mais inteligentes e com uma
estrutura de lazer completa, aliada à sustentabilidade ambiental, têm levado as empresas da cadeia da construção a desen-
volver materiais, equipamentos e processos construtivos que atendam essas necessidades. «Há 20 anos, o projeto de uma
edificação era mais simples, contemplando as partes hidráulicas, elétricas e de telefonia. Hoje, a gama é muito maior, com
novas modalidades dentro de um projeto, incluindo alvenaria, exaustão, automação, entre outros», exemplifica.
Thomaz, em sua apresentação no III Sobratema Fórum Brasil Infraestrutura - Tecnologia e Inovação, também exem-
plificou diversos tipos de processos construtivos, equipamentos e ferramentas que já vêm sendo utilizados na construção
civil brasileira. No caso de obras de infraestrutura, citou as pontes estaiadas, que são usadas em grandes centros urbanos
que precisam aumentar a mobilidade do tráfego de veículos, e o cantitravel, que é a cravação de estacas de sustentação de
superestrutura sem contato com o solo, que já vem sendo usado na construção do Trecho Leste do Rodoanel de São Paulo.
Para falar um pouco mais sobre inovação na construção civil, Valter Pieracciani concedeu esta entrevista para a Revista
Construchemical.
Revista Construchemical - O
senhor afirma que a construção
civil é um dos setores que mais
trabalham com as universidades
e desenvolve inovação. Em sua
opinião, por que isso está acon-
tecendo nesse setor?
Valter Pieracciani -
Trata-se de
uma questão cultural e histórica.
Na construção civil sempre foram
usados especialistas para cálculos
estruturais complexos, dimensio-
namentos e outras atividades de
projeto que envolvem alto nível
de conhecimento técnico. Os es-
pecialistas que detêm esses conhe-
cimentos estão normalmente liga-
dos a universidades e, desta forma,
é muito natural que haja uma pro-
ximidade maior entre universida-
des e o setor da construção civil.
Revista Construchemical - O
Brasil investe pouco em tecno-
logia e inovação. O que pode ser
feito para melhorar esse quadro?
Valter Pieracciani -
Muito tem
sido feito para isso. O sistema bra-
sileiro de inovação, os incentivos
fiscais da Lei do Bem e as linhas
de financiamento à inovação são
instrumentos importantes para
aumentar o investimento da ini-
ciativa privada e que nunca an-
tes tinham sido disponibilizados.
Governo, academia, consultores
e principalmente as empresas es-
tão, pela primeira vez, alinhados
na direção de fazer mais inovação
e investir mais em tecnologia. O
quadro é muito favorável. O que
precisa ser feito é acelerar. Em
outras palavras, fazer tudo o que
está sendo feito, só que em maior
intensidade e velocidade. Ampliar
os incentivos para empresas de
menor porte, no que se refere à
academia, abrir seus portfólios de
pesquisa e ampliar sua flexibilida-
de na negociação com as empresas,
os consultores apoiarem de forma
simples e eficaz as empresas e, por
fim, as empresas acreditarem mais
no investimento em tecnologia
como ferramenta competitiva e,
assim, canalizarem mais recursos
para suas engenharias.
Revista Construchemical - O se-
nhor alerta também que, diaria-
mente, são colocadas em prática
novas tecnologias nesse segmen-
to, porém as pessoas que traba-
lham na área não percebem que
se trata de inovação. O senhor
poderia detalhar um pouco mais
sobre isso?
Valter Pieracciani -
Nós, enge-
nheiros e técnicos brasileiros, ten-
demos a depreciar as atividades de
inovação que realizamos. Também
aí trata-se de uma questão históri-
ca e cultural, uma herança maldi-
ta de que a inovação era coisa só
dos países desenvolvidos. Muita
coisa do que fazemos e chamamos
de assistência técnica, marketing,
manutenção, é, na verdade, pura
e preciosa inovação. Precisamos
reconceituar inovação, entendê-
-la como algo de nosso dia a dia e
não apenas como invenções mira-
bolantes do mundo do eletrônico.
Precisamos enxergá-la e valorizá-
-la cada vez mais.
Revista Construchemical - O que
“Nós, engenheiros e técnicos brasileiros, tendemos a
depreciar as atividades de inovação que realizamos.
Também aí trata-se de uma questão histórica e cultural, uma
herança maldita de que a inovação era coisa só dos países
desenvolvidos. Muita coisa do que fazemos e chamamos de
assistência técnica, marketing, manutenção, é, na verdade,
pura e preciosa inovação”