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Industrialização na construção civil

01/08/2019 - 10:08

* Danilo Lorenceto

Cada vez mais a construção civil busca meios de industrializar seus processos, mudar e procurar alternativas construtivas diferentes, tudo com o intuito de melhorar uma única coisa: o CONTROLE. Num setor em que a cultura do controle ainda é extremamente difícil e pouco assertiva, mudar o "jeito" que se constrói, tentando industrializar ao máximo seus processos, ajuda a identificar onde estão as falhas, sejam elas de definição de escopo, custo, tempo e etc. Se você tem mais controle, você sabe exatamente quanto gasta, quanto tempo dura e que qualidade tem. Assim você pode, além de melhorar a margem de lucro, oferecer um produto melhor aos seus clientes.

Um dos processos construtivos que tem essa grande característica é o PAREDES DE CONCRETO MOLDADAS IN LOCO. De maneira simples, o sistema consiste em ter formas que perfazem todas as paredes e lajes (se for o caso) de uma ou mais unidades habitacionais, que depois são concretadas de uma só vez, monoliticamente, não existindo vigas ou pilares. O "aparelho" todo de lajes e paredes forma uma grande peça única estrutural. O passo a passo seria: a montagem da armadura (em sua grande maioria de telas soldadas com reforços estruturais nos vãos e respaldo), a montagem das instalações embutidas (elétrica e hidráulica), a colocação dos espaçadores, a montagem da forma e a concretagem.

Mas o que isso tem a ver com industrialização?

Imagine no sistema tradicional em que você teria que controlar argamassa de assentamento dos blocos e, por sua vez, cimento, areia, cal e água. Depois, teria que controlar o assentamento de blocos cerâmicos, bem como sua mão de obra e desperdício. A mesma coisa para o chapisco, emboço, reboco, as peças estruturais, pilar, viga e laje, as instalações elétricas e hidráulicas embutidas e, ainda, a logística de tudo isso no canteiro. Se for edificação vertical, maior ainda será a preocupação com a logística.

No sistema PAREDES DE CONCRETO, você diminuiria drasticamente a quantidade de itens a serem controlados, pois praticamente só teria a montagem e desmontagem da forma, a armadura, as instalações e concretagem, deixando o processo muito bem industrializado, aumentando o controle e melhorando a assertividade do resultado.

As paredes de concreto moldadas in loco não são exatamente uma novidade. Há exemplos como a capital federal de Brasília, que tem muitas paredes de concreto e foi construída no final da década de 50. O sistema ganhou grande peso na construção civil brasileira nos últimos anos, com o grande impulso dos órgãos financiadores para projetos habitacionais em larga escala.

NBR 16055

Grandes construtoras começaram a migrar para o método, pois há um vasto ganho principalmente de produtividade, havendo maior necessidade de atenção do setor. Assim, em maio de 2012, a ABNT lançou a NBR 16055 - Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações - Requisitos e procedimentos. A norma não tem limites de pavimentos, regulamentando e consolidando a utilização do método construtivo no Brasil, principalmente nos quesitos de conforto térmico, acústico, estrutural.

A evolução do mercado

O mercado de produtos específicos para paredes de concreto tem evoluído bastante. Hoje temos uma grande variedade de formas no mercado, das mais diversas tipologias, mas em sua grande maioria são formas de alumínio ou mistas. As mistas são constituídas de madeira com travamento metálico, formas de plástico também com travamentos metálicos, e assim por diante. Existem também todos os periféricos, como caixinhas de energia, espaçadores e sistemas hidráulicos próprios para o sistema construtivo.

Sem dúvida nenhuma o grande empecilho para a adoção do método era o custo, principalmente das formas, de modo que a viabilidade do sistema só se dava em um grande número de unidades iguais. Mas com a concorrência e o mercado em crise como está hoje, existem algumas empresas que alugam o sistema de formas adequado para a sua necessidade por períodos menores, o que faz com que a viabilidade também seja viável para pequenas quantidades de unidades habitacionais.

Saiba mais

Um grande cuidado que se deve ter no sistema construtivo é com o concreto, pois além de ser o maior insumo, ele exige cuidados especiais. Como a parede tem uma espessura relativamente pequena, em torno de 10 cm, na maioria das vezes, e ainda temos a armadura de aço e as instalações embutidas, fica difícil o adensamento do concreto por vibração, assim se utiliza o concreto autoadensável, que tem como característica principal um alto grau de trabalhabilidade e autoadensamento sem prejudicar sua resistência. Neste concreto, o slump tradicional é por volta de +/- 23 cm, ou seja, muito alto, exatamente para que o concreto preencha todos os vãos e consiga percorrer por debaixo das janelas, por exemplo.

Então, para se chegar nessa trabalhabilidade, faz-se uso de aditivos plastificantes ou superplastificantes. Um outro ponto a se destacar é que a granulometria máxima do agregado graúdo (brita) é por volta de 10 mm ou a chamada "brita 0", pois assim o concreto consegue chegar a pontos mais difíceis sem causar as tão temidas "bicheiras". Na maioria destes concretos também existe a adição de fibra de polipropileno que ajuda na retração do concreto, visto que sua área de contato com o sol é muito grande.

Vantagens e perspectivas

O grande trunfo do sistema construtivo é a produtividade, sem a necessidade de grandes resistências para desforma. Em razão deste concreto, em 12h já é possível fazer a desforma e começar a montar a forma na próxima unidade habitacional - dependendo do projeto, mas na maioria das vezes (projetos de unidades com no máximo 60m²), a produção é de uma unidade habitacional por dia com um jogo de forma e uma equipe de aproximadamente 8 montadores. Uma casa por dia é uma altíssima produtividade. Sem contar os outros benefícios, como reduzir drasticamente a quantidade de insumos e, consequentemente, gerar muito menos resíduos, a redução do prazo global e a diminuição dos custos fixos do canteiro.

De maneira geral, para uma mínima viabilidade (acima de 20 unidades), o sistema tem se tornado mais viável do que o sistema tradicional na comparação direta de custos. Quando se agrega os outros benefícios como a produtividade e resíduos, a economia é grande.

Grandes construtoras do mercado têm migrado seus sistemas construtivos para este, simplesmente por todos os itens aqui mencionados. O aumento da produtividade e controle é um trunfo que poucas empresas têm. É claro que todo sistema novo para ser implantado passa por inúmeras dificuldades, mas isso tem se mostrado irrelevante aos ganhos apresentados.

* Danilo Lorenceto - Formado em Engenharia Civil pela Unesp, MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV, atua há mais de uma década no mercado da construção civil participando dos mais diversos projetos comerciais, industriais e residenciais. Especialista em Paredes de Concreto Moldadas Inloco, Consultor técnico e de Gestão de Projetos de Construção Civil em todo território nacional. Atuação também focada na produção de Cursos e Palestras de Gerenciamento de Projetos e Industrialização na Construção Civil.

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